Periodontite e as Associaçōes com Doenças Sistêmicas: A Bactéria Oral Pode Mesmo Causar Outras Doenças?
Alexandre R. Vieira
Periodontite está associada à várias condições, como doenças respiratórias, doença renal crônica, artrite reumatóide, problemas cognitivos, obesidade, síndrome metabólica e câncer. Uma sugestão para explicar tais achados é pela ação direta de microorganismos orais pelo fato de se detectar bactéria exclusivamente da cavidade oral nos órgãos afetados nessas doenças sistêmicas (Tabela).
Bactéria | Sistema | Doença |
Fusobacterium nucleatum | Cavidade oral | Periodontite, gengivite, lesão periapical |
Resultado de gravidez | Corioaminiotite, nascimento prematuro, nascido morto, sepsis neonatal, pre-eclâmpsia | |
Gastrointestinal | Câncer de colon, doença inflamatória do intestino, apendicite | |
Vascular | Aterosclerose, síndrome de Lemierre, aneurisma cerebral | |
Outros | Infecção do trato respiratório, abcessos em vários órgãos, artrite reumatóide, doença de Alzheimer | |
Streptococcus mutans | Cavidade oral | Cárie dentária |
Vascular | Aterosclerose, bacteremia, endocardite |
Apesar dessa explicação fazer sentido, doenças como periodontite or cardiovascular são muito comuns, da mesma forma que é comum que as pessoas sejam colonizadas na boca por microorganismos associados à cárie dentária ou periodontite, mas não apresentem essas doenças. A razão mais provável para que doença periodontal se associe a condições em outros sistemas é a maneira com que o indivíduo responde localmente através de uma reação inflamatória. Essa reação inflamatória é geneticamente determinada de forma complexa (mais de um gene contribui e esses genes podem ser influenciados por outros fatores, como o ambiente). Em se tratando do mesmo indivíduo, pode-se assumir que a magnitude da resposta inflamatória é semelhante independente do órgão, sendo que algumas pessoas reagem de forma mais intensa do que outras. A magnitude dessas reações inflamatórias locais são semelhantes em cada pessoa, e quando se mede periodontite e outra doença qualquer que também é frequente na população, parece ser comum ver essas condições de natureza inflamatória estarem associadas. A melhor evidência para isso é o fato de indivíduos que fazem uso de doses baixas de ácido acetilsalicílico (aspirina) para prevenir ataque cardíaco apresentarem um risco diminuído para câncer. A provável razão disso é que o uso crônico de aspirina inibe resposta inflamatória e assim protege contra o câncer. Toda essa evidência agregada sugere que intervenções teciduais regenerativas deverão funcionar melhor em individuos sob estados inflamatórios inibidos.